Networking: Especialistas alertam sobre o lado obscuro das relações de trabalho

Por Josué Amador (Jornalista) e Bárbara Gouvêa (Estagiária)

Em tempos de grande competitividade e superficialidade em algumas relações humanas, a formação de networking requer um olhar mais sensível aos contatos tóxicos. Tais observações devem ser feitas desde a formação até a aposentadoria, pois todo vínculo profissional pode ser perigoso, alertam especialistas em carreira e gestão de pessoas.

O coach Sergio Montes, diretor do Instituto DNA – Desenvolvimento Humano e Empresarial, explica que os perigos são reais, pois as pessoas são ‘caixinhas de surpresas’. Ele explica que alguns podem menosprezar os esforços dos outros, reclamar de tudo, mostrar-se mais entendedores do que realmente são e demandar suas responsabilidades para terceiros, deixando o networking ‘doente’.

“Tem sempre um culpado, alguém que mandou, ‘segui as regras’ é o que costumam usar para justificar o que fizeram ou o que não fizeram, usam aquele famoso ‘ninguém me disse que era para fazer assim’ ou ‘eu não sabia disso’, entre outras coisas. Também existem aquelas pessoas que passam o dia de trabalho resolvendo seus problemas pessoais. São comportamentos que ficam visíveis no dia a dia e se você estiver prestando atenção aos sinais poderá evitar grandes problemas e situações desconcertantes”, explica Montes.

A questão pode ficar mais séria quando se lida com sociopatas. Em seu livro “Como Identificar um Psicopata”, a psicóloga forence norte-americana Kerry Daynes explica que sociopata e psicopata são a mesma coisa, sendo o primeiro termo mais utilizado para distúrbios sociais – inicialmente não psicóticos. Ela explica que é muito possível haver alguém assim em nossa rede de contatos.

“Ele pode roubar sua carteira, invadir seu computador ou falar mal de você para o chefe. Ou levá-lo para almoçar todos os dias, dizer que você é um grande amigo e elogiar sua última apresentação. Seja como for, ele pretende usá-lo para tirar alguma vantagem. O psicopata não trabalha em equipe. Ele analisa um por um na empresa para ver quem lhe pode ser útil. Se fizer amizade com você é porque ele sabe que, de alguma forma, poderá lucrar com isso”, diz Daynes, em um trecho de sua obra.

Para a psicóloga forense, se houver alguém assim no ciclo empresarial, é melhor que o profissional se afaste e Sérgio Montes aconselha que não se alimente discussões, papos, e que não marque encontros principalmente sozinhos e explica que ‘um sociopata pode ocupar qualquer posição dentro de uma organização, do posto mais operacional ao de CEO ou liderança e existem vários graus de sociopatia’.

No que diz respeito à percepção das relações tóxicas, a Programação Neurolinguística pode auxiliar na leitura dos ‘sinais que as pessoas dão’, explica Montes, sendo possível identificar em torno de 55% de suas intenções. A PNL fornece ferramentas que servem como proteção pessoal, evitando que se entre em confusões ou ajudando a sair de situações difíceis como essas.

Recursos Humanos

Pelo bem dos indivíduos e das organizações, é melhor que não haja ocorrência desse tipo de relação, mas é algo que não se pode controlar o tempo todo. Neste ponto, cabe também ao profissional de Recursos Humanos estar atento aos fatores internos da corporação e, caso identifique alguma situação deve cuidar dela com o devido respeito, sempre levando os envolvidos à reflexão e ao autoconhecimento, conforme explica a especialista Adm. Rosângela Arruda, secretária da Comissão Especial de Recursos Humanos do CRA-RJ.

“Muitas vezes o profissional de RH precisa fazer um trabalho de desenvolvimento individual e, em algumas situações, encaminhá-lo para algum trabalho profissional que facilite o seu entendimento de que é necessário ser bom para o coletivo, se for bom para uma minoria, essa não será a melhor solução tendo a necessidade de buscar, junto com a equipe, outros caminhos”, destaca Arruda.

Ela ainda deixa claro que ‘as soluções nunca são mágicas, mesmo sendo simples, se tornam complexas’ pelo fato de se estar lidando com pessoas totalmente distintas entre si, que se adequam a certos comportamentos e acreditam que aquele é o melhor caminho, mesmo sendo tóxico. Assim, este cenário requer contínua capacitação dos responsáveis por esta área para que todos saiam ganhando de fato, gerando um networking verdadeiramente saudável.